Mas gosto, gosto das pessoas. Não sei me comunicar com elas,
mas gosto de vê-las, de estar a seu lado, saber suas tristezas, suas esperas, suas vidas.
Às vezes também me dá uma bruta raiva delas, de sua tristeza, sua mesquinhez.
Depois penso que não tenho o direito de julgar ninguém, que cada um pode
— e deve — ser o que é, ninguém tem nada com isso.
Em seguida, minha outra parte sussurra em meus ouvidos que aí,
justamente aí, está o grande mal das pessoas:
o fato de serem como são e ninguém poder fazer nada.
Só elas poderiam fazer alguma coisa por si próprias,
mas não fazem porque não se vêem, não sabem como são.
Ou, se sabem, fecham os olhos e continuam fingindo,
a vida inteira fingindo que não sabem.
Caio Fernando Abreu
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